Archive for the ‘silvana guimarães’ Category

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setembro 10, 2009

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Então. Agora eu era a noiva do caubói e andava nua pelo seu país. Fingia que sou seu brinquedo. Bolinha de gude, figurinha, bodoque, tampinha premiada de garrafa. A gente agora brincava de médico, subia em árvore, corria na chuva, soltava pipa, brincava de médico, fazia castelos em monte de areia. Rei e rainha, mocinha e bandido, mula-sem-cabeça, moinhos de vento, médico. Jurava amor eterno. Na fartura e na miséria, blablablá. Na formatura do jardim de infância, dentro do terno branco engomado, ele sussurrou ao ouvido dela, assanhando todas as saias do seu vestido de organdi: “quando crescer eu volto pra gente se casar”. Primos. Quase indivisíveis como os números. Até que ele conheceu Lola e seus olhos de seis e meia, seu corpo de água mansa, seu sorriso de alecrim. O músculo mais potente do corpo humano é a língua. Apaixonou-se. Eu também. Agora era fatal.
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silvana guimarães